Mais do que priorizar uma boa noite de sono, as escolhas que são feitas em cada refeição refletem ao longo do dia — e os dados comprovam a importância de escolher bem os alimentos. Números do Covitel 2023 (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia) indicam que mais de 17% dos jovens entre 18 e 24 anos convivem com sobrepeso.
Na Escola Municipal Professora Virgínia Soares, por exemplo, as turmas do quinto ano aprendem desde cedo a importância de pensar e escolher aquilo que faz parte de cada prato, priorizando os alimentos naturais e deixando de lado o que pode ser prejudicial.
Com foco na saúde e na movimentação do corpo, a unidade recebeu o Prêmio Nacional Crianças Mais Saudáveis deste ano, iniciativa da Fundação Nestlé Brasil, sendo a única de Santa Catarina a receber o reconhecimento — a instituição premia duas escolas por região.
Se a consciência na hora de optar pela merenda da escola está presente na rotina dos estudantes, a ação de aproximar a turma da alimentação saudáveis começou no início do ano, pensando em uma abordagem multidisciplinar.
“Pensamos junto com as crianças um tema em evidência, porque depois da pandemia ainda ficou aquela questão de ter que comer direitinho. Eles não estavam habituados com essa questão de pensar numa alimentação saudável para o corpo, para a mente, e a atividade física também. Quando pensamos no IMC (Índice de Massa Corpórea) para a Feira de Matemática, trouxemos isso e já complementamos com as habilidades trabalhadas no quinto ano”, explica a professora Ieda Maria Vargas dos Santos.
Mais que incluir o tema em sala de aula, uma alternativa para os profissionais foi aplicar os conhecimentos ao longo do dia, extrapolando o que estava no livro ou na lousa. “Nós trouxemos Ciências na alimentação, e na atividade física trabalhamos a questão do brincar. Fomos para a quadra, mostramos a questão das calorias e da perda calórica, levamos os reloginhos para medir as calorias que eram perdidas”, complementa a educadora.
Por mais que a unidade já tenha o costume de participar de feiras, premiações e concursos, existem ganhos que vão além do reconhecimento — nesse caso, foi acompanhar a mudança no comportamento dos estudantes.
“Eles começaram a perceber quais eram os alimentos nutritivos, perceberam que o que se alimenta precisa gastar essa caloria, porque senão fica como gordura acumulada. Aprenderam a calcular o IMC, então eles medindo com a balança na sala, pesando, fazendo o cálculo. Eles iam colocando os valores, trazendo os resultados. Se alimentando bem, fazendo atividade física, eles tinham uma dieta mais cognitiva, e isso, consequentemente, gerava saúde. Depois ampliou-se para a escola através dos cartazes, através da exposição do trabalho na feira”, pontua a diretora Susana Cercal de Nascimento.
Embora a Rede Municipal de Joinville tenha um projeto de alimentação saudável nas escolas, o trabalho com a turma foi essencial para criar a proximidade com as escolhas e com as respostas do próprio organismo.
“Antes de sair para o recreio falamos sobre a merenda, o que tem no cardápio, falamos sobre as nutricionistas, que elas fazem tanto por eles. Eu tenho visto o dia a dia, a quantidade maior indo pegar a merenda, gostando, saboreando, porque a gente também faz esse trabalho do experimentar. Eles precisam, porque muitos não conhecem, não conhecem uma fruta diferente ou uma verdura, porque eles não têm o hábito de experimentar”, elenca Ieda.
No trabalho entre Matemática, Ciências e Educação Física, houve quem identificou a atividade preferida. “Quando estávamos apresentando o trabalho, tinha uma cartela sobre os exercícios físicos. A corrida perde 600 calorias, e eu percebi que é bem legal fazer corrida, mesmo que seja muito cansativo, mas é legal que a gente perde bastante (caloria)”, comenta a estudante Mariana Farias, 11, aluna do quinto ano.
Para Matheus Vargas Segundo Fernandes, 11, uma lição foi memorizada. “Aprendi que temos que diminuir, comer menos alimentos gordurosos e comer mais alimentos saudáveis.”
Prêmio Nacional Crianças Mais Saudáveis
O projeto que foi pensado para a Feira Municipal de Matemática acabou não sendo selecionado para a fase seguinte, mas uma nova oportunidade surgiu com a premiação da Fundação Nestlé Brasil.
A decisão de concorrer com projetos de todo o país foi apresentada pela diretora Susana Cercal de Nascimento, pela supervisora Andreia Heiderscheidt Fuck e pelas professoras Sheila Poerner Farias e Ieda Maria Vargas dos Santos.
Elas tiveram a missão de gravar um vídeo para explicar o que foi feito na escola e como a alimentação saudável foi trabalhada ao longo do ano, de acordo com as cinco missões elencadas pela própria instituição: “os caminhos da água”, “os caminhos da terra”, “os caminhos do alimento”, “os caminhos do brincar” e “os caminhos da comunidade”. Para ser contemplada, a iniciativa precisa ser enquadrada em dois quesitos.
E o resultado foi surpreendente até mesmo para aquelas que estavam à frente da iniciativa. “Choramos muito, porque na realidade nada é por acaso, mas juntamos as apaixonadas pela escola, então é um caso de amor que temos, trouxemos nossos filhos para estudar aqui”, conta Ieda.
Além do reconhecimento, a unidade será contemplada com R$ 38 mil, investimento que será destinado à horta pedagógica, ao refeitório e a uma nova quadra de esportes, pensando na movimentação das turmas. “Precisamos de uma área para que possam praticar o esporte coletivo, o esporte de contato, que gasta mais energia, que tira eles dessa rotina digital, muito parada. Vai ter que haver um maior investimento nessa área, então o recurso está muito direcionado para isso”, diz Susana.
Com a premiação divulgada, as escolas vencedoras participam de encontros de mentoria com a equipe da Nestlé. O objetivo é planejar o que será feito com o dinheiro, além da entrega dos orçamentos e o planejamento para manter a iniciativa em funcionamento na unidade.