Entre os comerciantes e moradores do Centro de Florianópolis é consenso: o lixo está tomando conta das ruas e, embora as terceirizadas contratadas pela prefeitura para cobrir a greve da Comcap (Autarquia Melhoramentos da Capital) estejam ajudando, não estão suprindo a demanda.
Visando contornar de vez o problema, a administração municipal deu mais um passo na intenção de entregar o serviço à terceirização, com a contratação de empresa para a coleta de lixo convencional no Centro, assim como já é feito no Norte da Ilha e no Continente.
A decisão foi anunciada na última quinta-feira (9), depois que a greve considerada ilegal pela Justiça extrapolou uma semana, mesmo com a multa fixada pela desembargadora Denise Francoski ter dobrado nesta semana de R$ 100 mil/dia para R$ 200 mil/dia, que deve ser cobrada do Sintrasem (Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis), que mobiliza a greve.
À nova terceirizada para atender o Centro, o município vai pagar R$ 207 por tonelada recolhida. Este valor representa cerca da metade dos custos da Comcap para o mesmo serviço. Com a decisão, o município também deixará de contratar trabalhadores temporários para atuarem na Comcap, até porque, argumenta, eles também cruzaram os braços.
“A terceirizada não está dando conta. É muito triste essa situação. O movimento aqui caiu bastante. É desagradável e estamos fazendo todo esforço possível para manter a organização e a limpeza.” — Cristina Queiroz, comerciante
Destino do lixo
“A rua tá imunda. Para nós, tem sido difícil, porque trabalhamos com comida. Nós mesmos temos que fazer a limpeza, só que não temos onde depositar o lixo, para que não fique espalhado. Vem chuva, vento e, principalmente à noite, os moradores de rua abrem e espalham tudo”, registra a comerciante Cristina Queiroz, 45 anos, que trabalha na rua Vidal Ramos, uma das mais charmosas do Centro, e que também não escapa da montoeira de lixo.
Além do mau cheiro, o lixo atrai roedores e insetos. O empresário Christian de Souza, 32, também atua na Vidal Ramos. Ele mesmo tem esvaziado a lixeira em frente ao seu comércio, também do ramo alimentício.
“Está prejudicando bastante nosso trabalho”, reclama. Mesmo com a prefeitura contratando empresas particulares, segundo Christian, o serviço não está como antes.
“Estamos recolhendo lixo da frente das lojas para não ficar acumulado, porque atrapalha o cliente, principalmente quem trabalha com alimentos. Estamos usando nosso carro próprio para recolher o acumulado”, comenta ele.
O comerciante resolveu limpar a lixeira em frente à loja, perto de onde clientes se sentam para comer. “Daqui a pouco começa a acumular moscas. Vamos recolher e levar para São José. Atrapalha tanto o nosso trabalho, quanto para o pessoal que consome, que vem para essa rua por ser conhecida pelo comércio de alimentos e tem que lidar com esse monte de lixo. Fora o que enfrentamos com moradores de rua furando os sacos. Se ficar aqui na frente da loja, no outro dia está tudo furado”, relata o empresário.
Coordenadora dos lojistas na Vidal Ramos, Rose Macedo conta que pediu aos síndicos dos prédios da rua para as equipes de limpeza fazerem a manutenção nas calçadas.
“Pedi que cada lojista varra a frente de seu estabelecimento e ensaque bem o lixo, além de só deixar na rua mais no fim do dia. É o que estamos fazendo, tentar manter a rua limpa para não perder movimento numa época em que estamos esperando muito”, registra.
Segundo a empresária, a situação no Centro está precária. “É uma greve indevida, justamente neste momento de véspera de Natal e fim de ano, e precisamos muito desse apoio para ter boas vendas”, constata.
Ros também reclama que a própria calçada tá servindo de banheiro público, outro problema comportamental que não tem relação com a greve. Para ela, a Vidal Ramos só não está numa situação pior por conta da mobilização dos comerciantes, pois a terceirizada não está dando conta.
Mobilização
A mobilização dos lojistas se deu por conta de uma recomendação do Sindilojas (Sindicato do Comércio Varejista) de Florianópolis e região. Em virtude da greve, a direção da entidade solicitou que os empresários armazenem o lixo dentro das lojas e mantenham as áreas em frente limpas.
O Sindilojas também reiterou o manifesto do movimento Floripa Sustentável, que considera a paralisação abusiva e prejudicial, especialmente, aos trabalhadores e aos pequenos e médios empreendedores que dependem do comércio e do turismo, e tiveram incontáveis prejuízos depois do outubro mais chuvoso dos últimos 100 anos.
MPSC recomenda corte de ponto dos grevistas
A fim de responsabilizar os grevistas, o MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) por meio do promotor Daniel Paladino, recomendou que a Prefeitura de Florianópolis realize o corte do ponto de trabalhadores que aderiram à paralisação apontada como ilegal pelo Tribunal de Justiça.
A comunicação, enviada na quinta (9), também recomenda abertura de processo administrativo para apurar responsabilização dos servidores, o que pode culminar em demissão. O promotor também sugeriu que o município empreenda todos os esforços administrativos e judiciais para manutenção do serviço de limpeza na cidade.