Quem é Nataly Castro, influencer de viagem brasileira que relatou assédio e dormiu em galpão com ratos


Desde que saiu do Brasil, em 2022, jornalista já visitou mais de 32 países. São 200 no roteiro. No final da semana passada, acabou perdendo o contato com a família, e só conseguiu retomá-lo na segunda (30). Viagem contra o preconceito: Nataly quer ser a primeira negra brasileira a visitar todos os países do mundo
A paulistana da Zona Norte da capital paulista, Nataly Castro, de 27 anos, estudou em escola pública quase a vida toda. Na faculdade, conseguiu uma bolsa para o curso de jornalismo, um dos seus sonhos.
No ano passado, ela decidiu investir em um segundo grande desejo: o de se tornar a primeira mulher negra brasileira a visitar todos os países reconhecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
São 200 países no roteiro. Ela já passou pelo Paquistão, Grécia, Itália e Israel, entre outros. Nesse percurso, sofreu assédio e precisou alterar o trajeto que fazia para ir até Serra Leoa, na África.
No final da semana passada, acabou perdendo o contato com a família, e só conseguiu retomá-lo na segunda-feira (30). Em vídeos em sua conta no Instagram, ela relatou os problemas por que tem passado nos últimos dias.
Brasileira influencer de viagens diz que está bem, mas sofreu assédio
No Afeganistão, ela foi parada pelo Talibã, grupo extremista islâmico que retomou o poder no país em 2021.
“O Tali me parou agora pedindo o meu passaporte no meio da avenida, vinte homens me cercaram e ficaram olhando sabe?”, contou ela à época.
Pelas ruas da capital, Cabul, e até dentro da casa onde ficou hospedada, Nataly teve que usar o véu para cobrir a cabeça, uma das mais básicas de uma longa lista de cuidados para não desrespeitar a Sharia – a lei islâmica.
Por onde passa, atrai os olhares por ser estrangeira, por ser mulher e por ser negra.
“Eu estou meio assim, apreensiva, nervosa, porque quando eu estou gravando vídeo, vocês estão percebendo que tem várias pessoas olhando. Então eu fico desconfortável”, relatou em vídeo no ano passado.
Nataly Castro teve de usar véu em países muçulmanos
Reprodução/Instagram
Na Geórgia – uma ex-República Soviética – quando contou que era brasileira, um senhor tirou da pasta uma folha impressa em preto e branco para mostrar um ídolo no começo da carreira: Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.
Na Jordânia, ela foi recebida com celebração pelas mulheres muçulmanas, que queriam até arrumar casamento para ela.
Viagem contra o preconceito
Em entrevista à TV Globo em julho de 2022, ela disse que o que a motivou sair do Brasil foi uma adolescência marcada pelo racismo.
“O que me motivou a buscar novas oportunidades e me jogar no mundo foram episódios de bullying, algumas situações que eu sofri na escola em que eu estudava, como chacotas, pessoas me ameaçavam de pegar na saída, pessoas me empurravam, cuspiam em mim, tentavam me empurrar da escada, entre outras situações bem difíceis, como apelidos, piadas. As pessoas não aceitavam eu ser uma aluna negra, fazendo a diferença na escola e sendo contada pelas professoras e diretores.”
Nataly Castro na Grécia
Reprodução/Instagram
Por causa dessas agressões, Nataly enfrentou problemas psicológicos, até que um dia encontrou um propósito.
“Uma das noites eu estava na casa da minha avó, e eu estava bem cabisbaixa, até que eu decidi ir na sacada e olhei para o céu e vi um avião. Nesse exato momento eu imaginei para onde aquele avião estaria indo? Para onde essas pessoas estão indo, como será que é lá em cima? Imagina só eu entrar em um avião desse e me jogar no mundo?”
Viajando pelo mundo, Nataly descobriu que o racismo não é sobre lugares, mas sobre pessoas. Na Polônia, ela sofreu agressões no meio da rua.
“Eu fui andando e percebi que as pessoas atravessavam a rua para não ficar na mesma calçada que eu. As pessoas apontavam, me chamavam de black me chamavam de monkey, que é macaco, eu fui me sentindo muito desconfortável ao ponto de chorar, começar a chorar no meio da rua porque eu não estava acreditando naquela situação que eu estava vivendo”, relembra.
“Ser mulher viajante solo já é um desafio, porque a gente vai para lugares onde é a questão de segurança, assédio. E ser mulher viajante negra é um outro desafio também porque em muitos lugares as pessoas não estão acostumadas a ver uma pessoa negra frequentando um aeroporto, uma sala vip, restaurante ou ficando hospedada em um resort no hotel. O que acontece é que muito dos lugares que eu frequento eu vejo alguns olhares de curiosidade e outros olhares de racismo.”
Ela faz questão de documentar cada experiência para inspirar as gerações que vierem depois dela.
“A viagem é muito mais do que o turismo, do que fotos bonitas, mas é a resiliência, experiência e autoconfiança. A gente vê que existem situações e pessoas passando por alguns problemas às vezes até maiores que os nossos e a gente aprende muito com a estrada, que a gente não precisa se curvar diante das imposições da sociedade, que a gente é forte e a gente pode sim conquistar o mundo.”
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